terça-feira, 28 de abril de 2009

Viagem a... Macaneta, paradise Inc

Bons dias companheiros de viajem!

Antes de tudo peço desculpa pelas actualizações deste blog ultimamente tardarem mais do que aquilo que gostaria mas deve-se
essencialmente à escassez de saídas de Maputo ao fim-de-semana, cada vez mais limitadas pelo orçamento de estagiário mas também por alguma falta de motivação
no dia-a-dia laboral.
Mas isso são outros temas para outro dia... hoje é dia de viagem a... Macaneta!

A Praia de Macaneta localizada no distrito de Marracuene, dista cerca de 40km de Maputo, e é conhecida por ser uma das praias mais desertas e tranquilas da
região, fruto do impossível acesso que se apresenta a qualquer veículo equipado sem tracção 4x4 e sem umas mãos minimamente versáteis ao volante.Saídos de Maputo, dividimo-nos por 2carros, um Pagero e um Clio e lá fomos. Pelo caminho encontrámos os habituais vendedores de castanha nas bermas, um ou
outro chapa em transgressão e sobrelotado, quer seja de pessoas, bagagens ou caprinos lutando para se equilibrar em cima da carga perante o vento e balanços
do caminho. Uma hora e meia depois, chegamos finalmente ao "famoso" rio Incomati que só é ultrapassável de batelão e foi quando alguém (já conhecendo o que nos esperava)
afirmou que seria prudente deixar o Clio ali estacionado.
Paga a travessia, entrámos para o batelão e passados 10min estávamos na outra margem, aí sim
percebemos porque razão tinhamos de abandonar o Clio e sujeitar-nos a ensardinhar 9pessoas (sim 9!!!) dentro de um Mitsubishi Pagero durante os próximos
10km...
2pessoas na bagageira, 4 no banco detrás e 3 à frente, só eu e o condutor é que fizémos o caminho à vontade, sem ter de pedir licença a nenhuma
perna, braço ou costela deslocada para fazer os movimentos de compensação aos buracos da estrada, evitando assim as sempre inconvenientes cabeçadas no
tejadilho! Logo depois da margem, o caminho é simplesmente intransitável sem tracção às 4, pois as variações de maré fazem com que a água do canal suba e inunde a estrada, tranformando um simples caminho de terra num verdadeiro troço do Lx-Dakar depois de uma monção sem dó nem piedade.
Mas graças ao nosso piloto de serviço conseguimos transpor todas as adversidades calmamente e chegar sãos e salvos à praia com o carro inteiro.

Bom, Macaneta é uma praia linda e extremamente pacífica mas algo longe do idealizado como praia paradisíaca, com algumas ruínas de construções antigas e barcos abandonados pelo tempo, no entanto - e digo-vos como minha opinião pessoal - basta-me entrar na água a 30ºC que tudo o resto de imediato se assemelha
instantaneamente à perfeição, incluindo os habituais caranguejos que tentam desesperadamente fugir debaixo dos meus pés nº43 ao mesmo tempo que eu rezo para
não os pisar e saltar da água a gritar como se não houvesse amanhã...

Depois de alguns banhos tomados e de estarmos um pouco à conversa com os meninos da praia que nos tentavam vender pinhas laranja para decoração, estava na
hora de almoçar o que já tinhamos previamente encomendado num restaurante perto do local onde nos encontrávamos.
Entre espetadas de marisco, peixe serra grelhado e algumas laurentinas, voltámos a fazer o trajecto inverso, agora percebendo que a água tinha subido ainda mais o que tornava a passagem até à zona
de atracagem do batelão bastante mais complicada.

No fim do desafio superado, e enquanto nos vangloriávamos pelo feito extraordinário de não ter ficado atascados e sujeitos à dó de um condutor misericordioso que nos ajudasse, alguem chegou à brilhante conclusão que como a maré tinha subido, o local de embraque já não seria ali, mas sim... 500metros
atrás, precisamente antes daquele caminho tenebroso que acabávamos de passar!
Sem grandes observações e no meio de algumas rezas, lá repetimos a aventura pela última vez.
A seguinte espera de quase 2horas ainda deu para assistirmos ao pôr-do-sol por cima do rio ver o céu transformar-se em chamas, num laranja de fogo vivo que exije tanto de respeito como de admiração.

Claro que, assim que se pôs noite, estava na hora do festim da mosquitada, sendo que ao fim de 3.763picadas, decidimos finalmente ir para dentro do carro e
fechar as janelas, pois é melhor ficar sem ar do que ser literalmente comido por estes sanguinários impiedosos.
À custa disto, daqui por uma semana se notar algum sintoma estranho, vou fazer o meu 3ºteste da malária, não vá o dito cujo aproveitar o meu corpo para lar de família...






















"die ultimative Maschine"



E estamos de volta a Maputo depois desta rápida viagem de um dia. Espero que gostem das fotos.

"ate munzuka" em dialecto ou até amanhã em tuguês


Bjs&AbNuno






quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Feira do Pau

Olá a todos, hoje gostava de vos dar a conhecer uma das minhas actividades predilectas cada vez que fico por Maputo ao fim-de-semana, a visita à Feira do Pau preto.
Este mercado tradicional ocorre todos os sábados desde cedo até cerca das 16h30 e é um dos grandes focos turísticos da cidade para a compra de lembranças para os amigos, recordações para nós próprios, memórias para quem as quizer, ou simplesmente para passar um bom bocado a conhecer a beleza da arte tradicional africana.
A Feira realiza-se na baixa da cidade, num espaço aberto com cerca de 5000m2, rodeada por alguns edifícios emblemáticos de outros tempos e que agora são apenas sombras do que um dia representaram, como sejam os eternos rivais Pastelaria Scala e Café Continental e o carbonizado prédio Pott (http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/03/pr%C3%A9dio-pott---a-agonia-de-um-s%C3%ADmbolo.html), actual albergue reconhecido de mendigos, traficantes, prostitutas e todo o tipo de socialmente excluídos que abundam pela cidade sem referência de passado, presente e muito menos futuro...

Eu já é a 3ªvez que vou a esta feira e cada vez gosto mais, a primeira foi - como tudo na vida - uma descoberta emocionante. Fui com o João, antigo inquilino do meu actual quarto e casa, estagiário da edição C12 e que como já cá estava há 1ano, conhecia bem o funcionamento do cenário. Como caloiro que era, branco, pálido, roupa limpa e olhos bem esbugalhados para absorver tudo o que era novo, reunia as condições ideais para ser praxado sem piedade, e assim foi!!! Assim que coloquei um pé dentro do recinto da feira, alguns vendedores aproximaram-se do João ao que ele tão simples e friamente respondeu: "...não me chateiem, o meu colega chegou agora de PT e está interessado em comprar muitas coisas..."!!!
Desculpem a expressão, mas "até me cairam os tomates" quando vi aqueles olhos todos na minha direcção como se eu me tratasse de um oásis no meio de um deserto seco e árido. 5segundos depois, de cabeça baixa e mãos nos bolsos, estava sem saber como nem porquê, rodeado por cerca de 20 pessoas, que me tocavam e chamavam desde "amigo", "primo", "tio", "pai"... ansiosas por vender-me tudo o que possam imaginar, cada um puxando a brasa à sua sardinha com preços, quantidades, descontos, promoções, ofertas, novidades... x20!!!!

Hoje olho para trás e tenho saudade daquela adrenalina que se abateu sobre a minha capacidade de raciocínio e inundou os sentidos, talvez resida aí a razão para e lá continuar a ir sempre que posso apesar de raramente comprar algo.
Entre as peças de arte, podem encontrar peças de pau preto, folha de bananeira, marfim, osso, batiques, batuques, telas, quadros, figuras, máscaras, relógios pirateados, pulseiras, brincos, vestidos, t-shirts... bem, uma verdadeira panóplia de objectos que sem dificuldade africanizam qualquer casa ou corpo.

Como é normal, ao chegar próximo de uma banca, o responsável "chuta" um preço e nós só temos de o negociar com ele, sendo que na maioria das vezes o final atinge metade ou menos do valor inicial pedido. É comum acontecer virar-mos costas e os vendedores seguirem atrás de nós a baixar o preço, o que permite conseguir algumas peças lindíssimas e únicas a valores irrisórios mas com vantagem para ambas as partes. Por exemplo, nesse dia, o João conseguiu comprar uma máscara de madeira de 6000MTN (180eur) por apenas 1500MTN (45eur) com bastante negociação, duas t-shirts velhas e um par de sapatilhas rotas que não queria levar de volta para PT...

Se um dia perder a cabeça e lá for com objectivo de trazer lembranças para casa, vou fazê-lo na última semana em Maputo, porque assim posso utilizar a roupa velha de verão como moeda de troca e diminuir o peso da minha bagagem, mas ao mesmo tempo porque depois terei uma viagem de 20horas para me massacrar do dinheiro que lá deixei... :S lololol




E é assim, é a Feira do Pau! Algo a visitar se um dia passarem por estas bandas.

Bj&AbNuno

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Le Chop-Chop

Já somos 22!!!!! Quando eu regressar a PT combinamos um jogo de futebol entre todos para o reencontro, quem apoia? Eu não sei jogar, mas apoio! Lol. Sejam bem-vindos...

Alguns de vós já se devem ter interrogado acerca do que é constitui a nossa alimentação diária durante a semana, já que estas brincadeiras de mariscadas e grandes rodízios normalmente só acontecem ao fim-de-semana pois para além do cuidado com colesterol e elevado risco de rapidamente ingressar-mos na lista de "barrigudos crónicos", também o nosso tempo e em especial o nosso limitado orçamento de estagiário não permitem grandes luxos...
Como estou longe de casa, o meu almoço é quase sempre uma sopinha de legumes bem servida por 3€ a lembrar a da mãe Gina, num restaurante português perto do trabalho chamado Zé Verde, propriedade de um senhor muito castiço, chamado Zé, do SCP e que veio da... Sertã!

Para o jantar, lá em casa somos em regra 2pessoas e meio, eu o Miguel e o Antón... vruuuum... lá foi ele outra vez sair, de modo que só ficamos nós os dois para a hora de jantar.
Ocasionalmente, quando o tempo e os ingredientes culinários em casa escasseiam, vamos (não com muita vontade minha) ao monhé da esquina, variando entre o prego no prato e o hamburguer no prato, com muito óleo ou muitíssimo óleo :S
Mas na maioria das vezes ficamos em casa onde, por votação unânime, fui nomeado cozinheiro desenrasca oficial, especializado em:

- esparguete/macarrão à Bolonhesa;
- massa com molho de atum, cogumelhos e natas;
- arroz de tomate e/ou de atum;
- T-bone ou febra grelhada com batata;
- ...
- entretanto vou aprender mais e actualizo a listagem! :)

A verdade é que dá para matar a fome e não é assim tão mau para a saúde, pelo menos quando complementado com salada e muita fruta à disposição em cada esquina pelos vendedores ambulantes.

Durante esta experiência, dois dos meus objectivos principais são:
1) tornar-me um bom cozinheiro para além do meu nível básico actual;
2) tornar o Miguel numa pessoa auto-sustentável na cozinha.

E quando eu falo de o tornar auto-sustentável, para além de o dotar de capacidades culinárias para não morrer à fome, incluo também técnicas de sobrevivência aos letais utensílios de cozinha, nomeadamente facas, garfos, tupperwares e colheres de pau!
Apesar de um ano de Erasmus na Suécia, foi necessário vir para Maputo para pegar finalmente numa faca e usá-la com outra finalidade que não a de barrar manteiga nas torradas. Como tem bom caparro para trabalhar e aqui andamos todos ao mesmo, obrigo-o diariamente a vir para a cozinha comigo e por mãos à obra. Actualmente já sabe pôr água a ferver, fazer um refogado, cortar chouriço e descascar alho. Na primeira vez que lhe pedi para picar a cebola, expliquei-lhe o método que reproduziu com exactidão, apesar de acabar a chorar que nem um desalmado... da 2ª vez, ainda não recuperado da última, recusou-se veemente... da 3ªvez, já esta semana, cortou um dedo! Quase tinhamos esparguete de cabidela :)
Apesar das advertências e das dificuldades estamos no bom caminho para o alcance do objectivo a que me propus, em Julho espero que nos possam tratar por Chef Nuno e Chef Miguel e que no processo mantenhamos os dedos todos.

--------------------------------------------------------------------------------------Secretamente aspiro pelo seguinte cenário:

O que é o jantar?

Miguel (actualmente): o quéééeé? Vamos ao monhé...

Chef Miguel: Filet mignon al punto, acompanhado de ostras em molho de manteiga e fois grás, e para sobremesa, um petit gateau quentinho, pode ser?
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Não custa acreditar, mas como eu tb não gosto de ostras, cozinheiro ou não, é um gajo porreiro!!!

"Estamos juntos" - (expressão utilizada em Mz para dizer "até já" ou "boa continuação")

Bjs&Ab
Nuno

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Coisas que acontecem... no Mundu's




Olá,
Esta semana na rubrica "Coisas que acontecem...", trago-vos um episódio insólito que ocorreu num dos restaurantes mais carismáticos e frequentados pela comunidade estrangeira em Maputo - na qual orgulhosamente me incluo - o restaurante Mundu's.




Imaginem o que é estarem descansados a saborear uma deliciosa refeição e a confraternizar com os amigos, quando de repente são surpreendidos por uma rusga policial que vos coloca frente a frente com a polícia militar, entre a parede e o cano de uma metralhadora AK-47 que de tão velha que é, aparenta estar em risco de disparar sem ser necessário pressionar o gatilho :SIsto só à lei da bala!



Por acaso não estava presente nesta ocasião, mas colegas nossos que assistiram a tudo em primeira mão, garantem que não ganharam para o susto...A situação foi tão despropositada que até mereceu um artigo no jornal.


E vocês? Como reagiriam...?
B&A,
Nuno