quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Home Sweet Home!!

Esta é a parte em que vos tento levar numa visita guiada pelo meu meu mais recente chalet das canas... Como já disse num post anterior, a casa que nos aguardava pertencia a 3 Contactos da edição 12 do programa que estavam a terminar os seus estágios o que se revelou uma ajuda inestimável tendo em conta a escassez de oferta imobiliária (pelo menos em condições mínimas de utilização) da cidade de Maputo. Essa escassez tem origem na falta de construção recente organizada e "legalizada", característica de uma cidade que literalmente parou no tempo vítima das adversidades da raça humana e cuja esmagadora maioria dos imponentes e lindíssimos edifícios (aproximadamente 95%) são da época da outra senhora...

Assim, nesse grupo insere-se também a minha "casota".




O local é relativamente bom, tranquilo, seguro e bem localizado entre duas das principais artérias da cidade (Av. 24Julho e Av. Eduardo Mondlane). É uma rua com bastantes árvores o que lhe dá um ar algo tropical e acaba por contrastar com as habituais "florestas" de betão europeias onde cresci. Essa dita vegetação, por vezes aparenta ter uma personalidade própria, ao olhar-mos para a força como as suas raízes levantam os pesados mas insignificantes bocados de cimento do passeio e rompem estrada dentro. enquanto abanam tranquilamente suas copas ao sabor do vento quente ostentando com orgulho um verde "mesmo verde"...


A nossa casa - à semelhança de muitas outras espalhadas pela capital - é uma moradia colonial, na altura abandonada por uma família portuguesa devido às consequências SEMPRE nefastas de uma guerra, que viria a ser ocupada por outra família moçambicana e posteriormente ofertada pelo Governo a esta mediante a sua ocupação e manutenção. Por fora, a infraestrutura de dois andares, garagem e paredes brancas parece paradisíaca, o que em muito ajuda a presença de uma palmeira (verdadeira e com côcos) em frente à janela do meu quarto :)




Também por fora, são visíveis sinais evidentes de um tempo triste e bélico que passou e deixou um rasto óbvio de destruição, violência e medo. À semelhança do que encontramos em quase todos os prédios da cidade (mesmo até em 8º e 9ºandares!!!), notre belle maison tem grades de ferro em todas as janelas e portas inviabilizando qualquer possibilidade de se possuir um estore que impessa a luz de um poderoso Sol que nos inunda a casa a partir das 5h30 da manhã!!



Para complementar as medidas de segurança - e talvez tenha sido isso o que me deixou mais surpreendido - como se trata de uma casa e não prédio, temos também o privilégio de estar guardados com muros rodeados de arame farpado, uma vedação elétrica (que funciona) e uma espécie de monstro devorador de homens, metade Rottweiller metade São Bernardo, que assusta qualquer persona non grata com o a sua pose imponente, ladrar aterrador ou capacidade de gerar poias de tamanha sobre-humano!!! ah, e é uma cadela...


Numa construção posterior colada à casa encontra-se a habitação da nossa senhoria e seus rebentos. Tratamo-la por "Mamã", como carinhosamente aqui é costume designar alguém mais velho e que merece respeito. É uma senhora impecável, simpática e uma excelente cozinheira, qualidade que tive oportunidade de apreciar quando nos ofereceu uma das suas habituais Matapas de Caranguejo... Não sei o que é, não sei como é feito mas também não me interessa, só vos posso dizer, é boooom...





Por dentro, a casa foi dividida para 2andares independentes em que no R/C vive uma família e no 1ºandar vivemos nós, eu e mais dois colegas Contactos, o Miguel e o António.


A sala é enorme, cada um tem o seu quarto bastante espaçoso (o meu com a vantagem de ter WC privativo), ha uma WC comum e uma cozinha muito grande com um frigo e fogão novos.





Para dar uma ideia da dimensão, nós chegámos 1semana antes da saída dos ocupantes anteriores pelo que durante esse periodo viviam 7pessoas, 1 em cada quarto e 4pessoas na sala. Apesar da falta de superfícies confortáveis para dormir, espaço foi algo que sempre abundou.


A renda são 1200USD ($400 a cada um), valor resultado da referida escassez de oferta mas na minha opinião, bastante aceitável para o imóvel em questão quando comparado com casas de alguns colegas. Facilmente atingem os 1500/2000USD e por vezes as estruturas não oferecem condições à altura. Com a difrença conseguimos contratar uma empregada doméstica - a Teresinha - que faz quase tudo desde, lavar roupa, limpar, arrumar, e até cozinhar. As únicas coisas que não faz é ler e escrever, não porque não quer mas sim porque à semelhança de muitos moçambicanos, nunca teve oportunidade de aprender, o que por vezes se torna um problema, especialmente na hora de deixar um recado para comprar seja o que for... ainda estamos a trabalhar na solução :)




Ah, graças ao facto de ter o privilégio de ter uma WC no quarto só para mim, o revés da questão prende-se no mau funcionamento do autoclismo que acaba por permitir a subida de visitantes menos, diga-se, vertebrados pela sanita... :) Apresento-vos o meu novo amigo da passada 5feira: "o compridinho"!!!


Deixo-vos esta foto priceless do meu colega Miguel quando fomos pagar os 3meses de renda em cash e à cabeça que normalmente são exigidos.


Cumprimnts Nuno

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O "contacto" inicial...

Graças a alguma sorte e ao meu novo colega Miguel, quando saí de PT já tinha certeza de haver um tecto à minha espera em Maputo, casa que curiosamente pertencia aos anteriores Contactos que estavam a terminar os seus estágios por cá.


Como uma coisa é ter casa, outra é saber lá chegar quando se desconhece até a cor da terra que se pisa (e aqui a terra é algo vermelha). Saí do aeroporto e, apenas equipado com uma morada, pensei que estava safo, no entanto o meu motorista nunca tinha ouvido sequer falar da tal rua o que poderia constituir um problema... Resolvi encontrar-me com o Miguel naquele que, sem suspeitar de início, se viria a tornar um dos nossos locais de culto para convívio, copos, matabichos (vulgo o acto de almoçar e jantar) e inevitavelmente local de culto para assistir aos derby's do nosso campeonato que no povo moçambicano encontra uma carteira de fervorosos e atentos seguidores... não fosse a terra natal da nossa Pantera Negra e do grande Matateu! Falo claro está da eterna pastelaria, casa-de-chá, restaurante e cervejaria CRISTAL na Av. 24Julho.

Visto a boleia ter sido idealizada só para mim, teria-mos de resolver o problema logístico que mais um elemento a transportar até casa representa numa carrinha de caixa aberta com 2lugares. Solução: vai o Nuno para a parte de trás. Digo-vos uma coisa, foram muito provavelmente os piores 3km e 25min da minha vida. Para um recém-chegado da Europa sem nunca ter estado num país em vias de desenvolvimento, o primeiro erro a evitar é pensar que se continua na Europa!!!!


À medida que avançáva-mos na estrada surgiam os primeiros sintomas do choque cultural na presença de um país subdesenvolvido: milhares de pessoas vagueando aparentemente sem rumo por todo o lado, crianças deleitando-se no meio de verdadeiros montes de lixo em plena via pública, crateras na estrada do tamanho de carros, dos quais estes se desviam com plena naturalidade e mestria, sujidade e pó, muito pó. Tanto pó que os meus olhos ansiavam desesperadamente e com a mesma força limpar as pequenas partículas que por eles entravam como aquilo que observavam.
Cada vez que parávamos num Stop ou semáforo, em cada esquina havia grupos de 10 e 15 adolescentes que me fitavam estaticamente como se eu me tratasse de uma presa observada pelos predadores. De cara pálida do Inverno português, roupa lavada e sapatilhas novas (propositadamente compradas para o pior a 9,90€ na agora longínqua SportZone), percorri todo o caminho agrarrando a mochila e o portátil, esperando que a qualquer momento alguem me apontasse uma faca e despojasse sem qualquer reacção de todos os meus bens, incluindo a vida. Dezenas de meninos aproximavam-se da carrinha, tentando desesperadamente vender tudo o que tivessem à mão, falavam: "pátrão, compra, compra, bárato, bárato..." mas eu não ouvia, estava cego, surdo e mudo num estado de total ansiedade!
Chegado à porta de casa e devido ao facto de ser feriado, havia imensas pessoas sentadas nos passeios a falar alto e a beber, maoiria das quais homens já grossos (como aqui se chamam aos bêbados)! Olhando para a habitação em si, à semelhança das que havia observado pelo caminho, esta tinha um sinal "cuidado com o cão", estava cravada com grades em todas as janelas e portas, cercada arame farpado e vedação eléctrica, características que nunca antes tinha visto juntas excepto num dos trailers mais hardcore do Rambo. Se ainda tinha dúvidas em entrar, esvaíram-se de imediato e entrei, na casa e em pânico.


Tendo em conta que até há 2semanas atrás o meu estágio iria decorrer em San José - Califórnia, nos EUA, numa empresa de software situada em pleno Silicon Valley - o panorama que a AICEP (Agencia p o Investimento e Comércio Extreno Português) me apresentava após esta viagem até casa era de completa desilusão, tristeza e desespero, tanto que ponderei mesmo desistir do estágio e vir embora no dia seguinte.
Decidi guardar para mim o sucedido, esperar e dormir sobre o assunto. No dia seguinte tudo parecia diferente, apesar de ser a mesma imagem, estava racional...
Toda a descrição que faço acima reflecte a maneira como eu senti tudo o que vi e todas as primeiras impressões que tirei... Lição nº1 da experiência Contacto: em tudo na vida, cuidado com juízos prévios e definitivos de pessoas e situações através das primeiras impressões. Observar, conhecer e compreender o contexto é fundamental.
Conclusão: as primeiras impressões não podiam estar mais ERRADAS!!! Hoje até me sinto mal de ter pensado o que pensei naquela tarde. Cresci um pouco :)


Abraços&Beijinhos
Nuno

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A chegada

É hoje dia 3 de Fevereiro, o sol africano já vai alto às 9h30 locais de Moçambique (+2h CET)... Depois de 21horas de voo, a derradeira Lx-Frkfrt-Joanesburg-Maputo está a chegar ao fim e ainda bem, pois há muito que já não encontro uma posição confortóvel para o meu corpo e mente enfraquecidos pelo cativeiro desta ave metálica da Lufthansa.
Na escala sul-africana, tive a oportunidade de conhecer a minha simpática companheira do lado, Anabela de nome, Moçambicana de alma e coração (como entusiasticamente se auto-intitula), que depois de perceber a minha condição de novato nestas bandas, rapidamente se mostrou disponível para tornar a próxima e ultima viagem de 50min menos penosa e repleta de histórias, dados e memórias fotográficas da sua terra que só serviram para intensificar a curiosidade do que me esperava nos próximos tempos... Engraçado foi o facto de quase ambos ter-mos perdido o voo para Maputo graças à recordação de Frnkfrt que Anabela trazia na mala para os familiares, nada mais nada menos que um jogo de utensílios de cozinha de 30peças inox, das quais 10 eram facas!!! Explicar ao segurança sul-africano que eram "naifes para present, family" foi o melhor que conseguiu e se não tivesse-mos rapidamente decidido abrir a mala e retirar as naifes potencialmente dangerosas, ainda agora estávamos na alfandega do aeroporto. Depois disto, foi o correr como se não houvesse amanha :) embarcámos!!
Pelo caminho, aquele que atentamente observa o solo abaixo, sem esforço repara na diferença morfológica e organizacional dos terrenos e aglomerados populacionais assim que é transposta a fronteira imaginária à entrada de Mz. É como se o ocidentalismo industrial tivesse contornado o país e o tempo tivesse esquecido os campos agrícolas e as populações.
Já vejo Maputo, está mesmo à minha frente... Pelo menos da minha janela parece uma metrópole, perfeitamente geométrica no desenho das ruas e avenidas, prédios altos e tão imponentes que inevitavelmente começo a divagar sobre como seria esta mesma imagem há 30anos atrás. À medida que a vista alcança mais longe, vejo que se encontra asfixiada por construção improvisada daquilo a que os brasileiros chamam favelas, pequenos cubos de cimento, pó e muita chapa de zinco. Contornamos a baía de Maputo e estou tão imbutido na paisagem que esqueço-me das regras aeronáuticas com que nos massacram antes de cada voo e puxo da minha câmara fotográfica para registar o momento.

Está ali o aeroporto, vamos aterrar.

Assim q as rodas tocam o solo, à distancia ouvem-se uns envergonhados aplausos o que me faz lembrar nas aterragens na Portela, mas logo que as portas abrem, rapidamente percebo onde estou. Saí de Lisboa ao meio-dia anterior com 6ºC, aqui agora são quase 10h e meia da manha e estão uns avassaladores 38ºC, é indescritível, quase automaticamente começo a suar "que nem um porco", condição que me acompanha durante todo esse primeiro dia e parte da noite, não há uma brisa enquanto caminhamos pela pista alcatroada do aeroporto. Não foi agradável mas o nosso frágil corpo causasiano também se adapta ao fim de algum tempo.

Já dentro da zona de espera, está o Sr. Artur, motorista da empresa com uma folha A4 em meu nome antecedida com o título DR., o que me deixa um pouco embaraçado. Depois de perceber o seu nível de lingua portuguesa, com algum cuidado, expliquei que teria de aguardar visto as minhas malas terem ficado no aeroporto - mas de Joanesburgo - o que, segundo informação da funcionária, é perfeitamente normal e corrente. Com igual calma - note-se nos 45minutos seguintes!! - preencheu uma folha de reclamação onde figuravam: o meu nome, voo, contacto, morada e tipo de bagagem. Felizmente a mala chegou no voo seguinte às 15h, depois de ter sido aberta e verificado que não tinha nada de valor para nenhum sobrinho do funcionário da alfândega, foi novamente fechada.
Agora a viagem de regresso ao aeroporto para levantar a bagagem, bem essa foi engraçada, mas deixo para outra história... :)
Abraços&Beijinhos
Nuno

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

3, 2, 1, GO...!

...e pronto, agora não há volta a dar, decidi arriscar!! Sejam então muito bem-vindos a esta minha aventura, espero que estejam preparados para o que está para vir, porque eu definitivamente não estou...:) agradeço o facto de terem clicado na minha página/blog e dado ao trabalho de ler, no mínimo, este primeiro parágrafo que não diz absolutamente nada de jeito. Apesar disso e de não me cairem na conta onerosamente 0,03€ por clique ao contrário da maioria dos sites para adultos, nem estarem a ajudar nenhuma corrente de solidariedade para o Joãozinho que tão dedicadamente nos continua a encher a caixa do correio com spam, ajudar-me-ão a dormir melhor à noite só por saber que alguém leva a sério -vá, ou pelo menos lê - aquilo que aqui escrevo... eh eh. Desde já, muito obrigado e espero que gostem!

Depois desta tentativa altamente fracassada de prefácio bloguista, vou passar rapidamente à minha apresentação enquanto criador, dono, editor, argumentista, crítico, fotógrafo oficial, fã nº1 e único do blog "umFIgueirensEMozambique": chamo-me Nuno, licenciado em Economia pela UC, sou natural da Figueira da Foz, uma bonita cidade à beira mar plantada no coração da costa portuguesa e estou neste momento, com mais alguns colegas, estacionado em Maputo ao abrigo da 13ªedição do Programa de estágios Internacionais InovContacto da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo Português) , doravante carinhosamente designados pelos C13's...


Este cantinho de escrita terá como principal objectivo descrever e ilustrar a minha curta experiência de 180dias na antiga cidade de Lourenço Marques, actual Maputo e talvez por momentos conseguir dar aos amigos uma visão de Africa e das suas particularidades que tanto coração tem cativado ao longo de gerações, mas também levar alguns leitores curiosos numa pequena viagem no tempo em recordações de épocas que já passaram nesta terra banhada pelo Índico. Para isso, gostaria de contar com a ajuda de quem acompanha, quer com comments, críticas, sugestões e também claro, qualquer eventual correcção à minha maneira de ver e sentir esta experiência que possa não corresponder à realidade.
Espero que se divirtam a ler, tanto como eu me divirto a escever-vos...

Abraços&beijinhos
Nuno