quarta-feira, 22 de julho de 2009

FIM

E é assim!

166 dias depois de aterrar naquela que sempre me disseram que seria uma “life changing experience”, está na hora de encerrar este blog e fazer um pequeno balanço da minha experiencia neste pequeno mas enorme canto de Africa.

No campo profissional, admito que o desenrolar do meu estágio não correspondeu exactamente às minhas expectativas, com um impacto em termos de carreira ainda por definir.


Do um modo geral, esta experiência permitiu-me ter um conhecimento privilegiado de um pólo urbano num mercado emergente numa economia cheia de oportunidades, trabalhar com variadíssimos tipos de pessoas, metodologias, crenças e religiões, ao mesmo tempo que estabeleci uma rede de contactos bastante útil para um eventual regresso através de uma empresa portuguesa.


No campo pessoal, durante estes quase 6meses proporcionados pelo programa de estágios internacionais tive a oportunidade de lidar com uma cultura completamente diferente da que sempre fui habituado, conheci pessoas e lugares extraordinários que sei que nunca mais verei como agora, dado o rápido desenvolvimento do que este país leva, comi iguarias a preços simbólicos cujo sabor faz inveja a qualquer restaurante de luxo.

Entre muitas outras coisas, há determinadas memórias de África que a objectiva não consegue transmitir e que vou guardar para a vida no regresso a PT, como sejam por exemplo:

- As tempestades Eléctricas que fazem estremecer os prédios e iluminam a cidade durante os recorrente cortes de energia;
- O indescritível cheiro da terra molhada depois de uma chuvada forte;
- As águas quentes e praias desertas;
- O calor na cara do nascer do sol às 5h30 da manhã;
- O Pôr-do-sol ardente;
- As pessoas e os seus sorrisos;
- A música e as cores;
- As paisagens a perder de vista;
- A cerveja Laurentina;
- A areia nos pés enquanto se janta;
- Abrir um caranguejo, sujar-me todo e ainda me rir
-…

Por tudo isto e muito mais, considero que estes últimos meses contribuíram indiscutivelmente para o meu desenvolvimento e crescimento individual, abertura às diferenças culturais e capacidade de adaptação, através dos pontos fortes e dificuldades de se viver longe de casa com a aspiração de uma carreira internacional.
É sem dúvida uma oportunidade extraordinária que tive e recomendo a qualquer pessoa com a ambição de querer ultrapassar a fronteira imaginária que por vezes estabelecemos a nós próprios e acaba por nos limitar a vida profissional na própria maneira de ver o mundo.

Como tudo na vida chega ao fim, faço minhas as palavras do colega C12 que me cedeu a casa no final do seu estágio quando lhe perguntei se “ia ter saudades e se não queria ficar?”, respondeu-me:
“[…]saudades sim. Querer voltar, talvez um dia! Mas agora fecha-se mais um ciclo na vida e assim está na hora de regressar à realidade […]”


Daqui a 25 horas, depois de Joanesburgo e Frankfurt, estarei na Portela a abraçar os meus pais e a minha namorada que esperou pacientemente 6meses por mim apesar de ter estado ausente em datas únicas como o nosso aniversário de namoro, o dia dos namorados, o seu dia de anos e o final de curso… a ela agradeço a força que me deu nos piores e melhores momentos nas conversas através do sempre limitado Skype. OBRIGADO por seres como és!

Hoje, assisto ao meu último pôr-do-sol Africano já da janela do avião!

Quanto a mim, parece-me que para já posso dizer que o “desvio” valeu a pena…
Moçambique é maningue nice, Kanimambo pela oportunidade! O mulungo há-de voltar.

(Changane – dialecto tradicional da zona de Maputo:
Maningue nice = adaptação do Inglês Many Nice, descreve algo “muito bom”;
Kanimambo = significa “Obrigado” e já é uma das imagens de marca de Moçambique;
Mulungo = actualmente uma designação carinhosa para o “branco de fora”, teve origem nos primeiros colonos que ajudavam os locais com oferta de comida e outros bens.)















Encerro assim este blog, agradecendo aos que me acompanharam durante algumas aventuras passadas por esta terra e que à distância conseguiram sentir um pouco do gosto de África.

Beijos&Abraços
NR

FIM

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Viagem à "Machamba Nhaule"

Depois de 5 meses e meio numa terra que não é a minha, a conviver com culturas que desconhecia, pessoas cujos comportamentos em outro local do mundo poderiam parecer completamente descabidos daquilo que é considerado o politicamente correcto, eis que gostaria de prestar homenagem a uma das inestimáveis pessoas que irei deixar com bastante saudade quando regressar a Portugal. O meu colega de trabalho Manuel Nhaule…
Este senhor é o responsável das compras da empresa onde estagiei e com os seus 62anos de idade possui a verdadeiro força e atitude de um rapaz de 20, sempre com um sorriso na cara e um piropo para as “gatinhas” (como as chama) por quem passa na rua. Com vontade de ajudar ao belo estilo do desenrasca, consegue arranjar solução para quase tudo num instante.
Sob o seu convite ocasional, acompanhei-o durante a procura pelos melhores preços no mercado, e assim foi-me dada a oportunidade de ir conhecendo a cidade de ponta a ponta. Conversa puxa conversa, muito interessado em história e sobretudo em Portugal, fomo-nos conhecendo e ganhando alguma confiança até que alguns dias atrás me convidou para ir à sua Machamba conhecer a família Nhaule!!!
(machamba – pequena porção de terra de cultivo isolada da cidade onde se costumam reunir para festas, celebrações e almoços em família.)
Um convite para a machamba pode parecer a coisa mais banal do mundo mas pelo que percebi, em Moçambique, convidar um “Mulungo” (branco) para entrar no campo pessoal trata-se de uma honra limitada a poucos sortudos. E orgulhoso mas com algum receio do que estava para vir lá aceitei o convite… Saímos no sábado de manha e pelo caminho parámos à beira da estrada para comprar castanha de caju, cerveja e melhor ainda: coco! Foi a primeira vez que vi abrir um coco com uma catana à minha frente e me ensinaram a beber a sua água e a comer o interior… humm, fresquinho é delicioso!
Chegados, vi que nos esperavam uns bons quilos de carne e um almoço digno de sultão, com costeletas (T-Bone) grelhada, febras, batatas, xima , arroz à discrição e cerveja Heineken. O único prato que não gostei foi guisado de “cabeça de vaca”, mas isso nem em Portugal voltaria a comer… lol J
À medida que iam chegando os restantes convidados, ficavam surpreendidos com a presença de um branco ali, literalmente no meio do mato, a 40km da cidade de Maputo, sem electricidade, rede de telemóvel ou seja, maneira de escapar caso as intenções fossem outras que não as do convívio… Claro que fui porque conhecia bem quem me convidou, dado que são aventuras para NÃO nos metermos sem ter a certeza do que fazemos e para perceber isso bastaram as palavras do ancião da família que quando me viu, me abraçou e disse: “sejas bem-vindo, mulungo corajoso…”! Depois de perceberem que o que eu queria era comer e beber, em 5minutos estavam todos à vontade com a minha presença e eu sentia-me o centro das atenções ao poder falar de Portugal, dos nossos costumes e com alegria deles relembrando o tempo em que a sardinha assada e o azeite constavam das refeições deste povo africano. Quando disse que lá em casa, costumamos ter 3 ou 4 refeições por dia e cada homem só tem direito a ter uma mulher, dado que em Moçambique a riqueza de um homem é medida pelo nº de “casas” ou mulheres que pode sustentar (e elas conhecem-se todas umas às outras) e normalmente há apenas um “mata-bixo” a meio da manha e depois só voltam a comer ao jantar, foi motivo para a risada total…
De barriga cheia, era já quase de noite e sem electricidade por perto, o mato africano fica bastante escuro. Em compensação o céu estrelado e a lua cheia, auxiliados pelos faróis dos carros ajudaram a que ainda fosse possível por uma música de marrabenta e digerir todo aquele manjar.
Chegados ao fim da festa, estava na hora de regressar à cidade, não esperando que a meio do caminho, um dos carros avariasse e voltássemos a parar no meio da estrada nacional sem luz à espera que alguém nos pudesse rebocar! Com a solidariedade de quem passa e uma corda de reboque resolveu-se o problema até à estação de serviço mais próxima…
Outros convites ficaram prometidos e admitiram-me que conquistei o respeito deles ao colocar de lado alguns preconceitos historicamente associados às nossas diferentes origens ao que com orgulho no final o ancião me voltou a abordar e considerar “obrigado pois a tua presença aqui hoje foi mais importante do que possas pensar, a partir deste momento és bem-vindo na família Nhaule”…

Obrigado Manuel, pelos francos ensinamentos ao longo destes meses
Até um dia



Beijos&Abraços
Nuno
























sexta-feira, 10 de julho de 2009

From Maputo "tour" the World

Por muito que quisesse gravar em vídeo tudo quanto vi nos últimos meses, desde logo não me pareceu viável ao que optei por ir fotografando alguns dos mais emblemáticos e característicos lugares e edifícios da bela cidade de Maputo.
Espero que se algum dia vierem cá reconheçam um ou outro ponto de referência entre aqueles que vos deixo aqui hoje…

















O Edifício CFM (Caminhos de Ferro de Mz)

Café SCALA














Fortaleza de Maputo e o seu Jardim Edifício Mesquita Sua Alteza AGA KHAN












Aeroporto de Maputo (aka Mavalane) Av. FPLM















O Edifício da EDMEP (Electricidade de Mz) Igreja Polana e a sua arquitectura















O Prédio Pott em ruínas Av. Eduardo Mondlane (antiga Pinh. Chagas)















A Casa Coimbra






O Prédio do antigo Banco Nacional Ultramarino















A marginal de MAputo e o Bairro de Xipamanine com o seu mercado tão característico e trânsito caótico de pessoas, veículos e animais, onde noutros tempos jogadores como Eusébio e Matateu tiveram a sua casa e escola de formação











Praça dos Heróis Moçambicanos onde jazem os grandes nomes da história recente do país como Samora Machel e Eduardo Mondlane

O “Muro dos Heróis” que por imagens conta a história do povo Moçambicano desde os Descobrimentos à Independência












Uma das “clínicas privadas” que encontramos tão frequentemente pelo país fora

Ministério da Saúde














Uma das cada vez mais numerosas IURDS (Igreja Universal do Reino de Deus)
O novo e contrastante Maputo Shopping















GalleryHotel em Catembe (do outro lado da Baía) A Livraria Académica













A Villa Algarve, antiga sede da PIDE, apesar de posteriormente oferecida para sede da Ordem dos Advogados, continua ao abandono
Os vendedores de rua













OsBombeiros Municipais

O “Muro da Vergonha” construído com a função de afastar os bairros degradados e pobres da cidade dos olhares curiosos dos visitantes à saída do aeroporto














A extraordinária Avenida 24 de Julho com os seus 4km de extensão



A Catedral de Nossa Senhora da Conceição











A Imponente Câmara Municipal






Os Jardins da Fortaleza







A Praça de Touros Monumental hoje desactivada












O Mercado Central





Estátua de honra aos combatentes da Grande Guerra em frente ao CFM







A bela Av. 25 de Setembro na marginal com a sua vista privilegiada para a baía da cidade











Os vendedores de batiques a colorir a cidade



Mesquita Mastjid Taqwa







O eterno Jardim dos Namorados, onde tanto amores e desamores se cruzam diariamente, mesmo ao lado da Avenida Engels onde nas madrugadas de 3ª e 5ª me serviu como pista de corrida enquanto o Sol ao nascer parecia que incendiava o mar

A pastelaria Náutilus e o Piri-piri onde tantas horas passámos entre a comunidade portuguesa, acompanhados de uma torrada com manteiga e um prego no prato com uma cerveja Laurentina



O Clube Naval, cheio de história e histórias, agora finalmente remodelado graças ao esforço de aulguns sócios




Tantos outros edifícios e lugares havia para mostrar, cada um carregado da sua história passada e presente fazem desta cidade, para além da nossa casa temporária de estagiários, uma lição daquilo que já foi este país e do potencial que está a começar aos poucos a redescobrir…
Fica para outra vez
Beijos&Abraços
Nuno