terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A chegada

É hoje dia 3 de Fevereiro, o sol africano já vai alto às 9h30 locais de Moçambique (+2h CET)... Depois de 21horas de voo, a derradeira Lx-Frkfrt-Joanesburg-Maputo está a chegar ao fim e ainda bem, pois há muito que já não encontro uma posição confortóvel para o meu corpo e mente enfraquecidos pelo cativeiro desta ave metálica da Lufthansa.
Na escala sul-africana, tive a oportunidade de conhecer a minha simpática companheira do lado, Anabela de nome, Moçambicana de alma e coração (como entusiasticamente se auto-intitula), que depois de perceber a minha condição de novato nestas bandas, rapidamente se mostrou disponível para tornar a próxima e ultima viagem de 50min menos penosa e repleta de histórias, dados e memórias fotográficas da sua terra que só serviram para intensificar a curiosidade do que me esperava nos próximos tempos... Engraçado foi o facto de quase ambos ter-mos perdido o voo para Maputo graças à recordação de Frnkfrt que Anabela trazia na mala para os familiares, nada mais nada menos que um jogo de utensílios de cozinha de 30peças inox, das quais 10 eram facas!!! Explicar ao segurança sul-africano que eram "naifes para present, family" foi o melhor que conseguiu e se não tivesse-mos rapidamente decidido abrir a mala e retirar as naifes potencialmente dangerosas, ainda agora estávamos na alfandega do aeroporto. Depois disto, foi o correr como se não houvesse amanha :) embarcámos!!
Pelo caminho, aquele que atentamente observa o solo abaixo, sem esforço repara na diferença morfológica e organizacional dos terrenos e aglomerados populacionais assim que é transposta a fronteira imaginária à entrada de Mz. É como se o ocidentalismo industrial tivesse contornado o país e o tempo tivesse esquecido os campos agrícolas e as populações.
Já vejo Maputo, está mesmo à minha frente... Pelo menos da minha janela parece uma metrópole, perfeitamente geométrica no desenho das ruas e avenidas, prédios altos e tão imponentes que inevitavelmente começo a divagar sobre como seria esta mesma imagem há 30anos atrás. À medida que a vista alcança mais longe, vejo que se encontra asfixiada por construção improvisada daquilo a que os brasileiros chamam favelas, pequenos cubos de cimento, pó e muita chapa de zinco. Contornamos a baía de Maputo e estou tão imbutido na paisagem que esqueço-me das regras aeronáuticas com que nos massacram antes de cada voo e puxo da minha câmara fotográfica para registar o momento.

Está ali o aeroporto, vamos aterrar.

Assim q as rodas tocam o solo, à distancia ouvem-se uns envergonhados aplausos o que me faz lembrar nas aterragens na Portela, mas logo que as portas abrem, rapidamente percebo onde estou. Saí de Lisboa ao meio-dia anterior com 6ºC, aqui agora são quase 10h e meia da manha e estão uns avassaladores 38ºC, é indescritível, quase automaticamente começo a suar "que nem um porco", condição que me acompanha durante todo esse primeiro dia e parte da noite, não há uma brisa enquanto caminhamos pela pista alcatroada do aeroporto. Não foi agradável mas o nosso frágil corpo causasiano também se adapta ao fim de algum tempo.

Já dentro da zona de espera, está o Sr. Artur, motorista da empresa com uma folha A4 em meu nome antecedida com o título DR., o que me deixa um pouco embaraçado. Depois de perceber o seu nível de lingua portuguesa, com algum cuidado, expliquei que teria de aguardar visto as minhas malas terem ficado no aeroporto - mas de Joanesburgo - o que, segundo informação da funcionária, é perfeitamente normal e corrente. Com igual calma - note-se nos 45minutos seguintes!! - preencheu uma folha de reclamação onde figuravam: o meu nome, voo, contacto, morada e tipo de bagagem. Felizmente a mala chegou no voo seguinte às 15h, depois de ter sido aberta e verificado que não tinha nada de valor para nenhum sobrinho do funcionário da alfândega, foi novamente fechada.
Agora a viagem de regresso ao aeroporto para levantar a bagagem, bem essa foi engraçada, mas deixo para outra história... :)
Abraços&Beijinhos
Nuno

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