quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O "contacto" inicial...

Graças a alguma sorte e ao meu novo colega Miguel, quando saí de PT já tinha certeza de haver um tecto à minha espera em Maputo, casa que curiosamente pertencia aos anteriores Contactos que estavam a terminar os seus estágios por cá.


Como uma coisa é ter casa, outra é saber lá chegar quando se desconhece até a cor da terra que se pisa (e aqui a terra é algo vermelha). Saí do aeroporto e, apenas equipado com uma morada, pensei que estava safo, no entanto o meu motorista nunca tinha ouvido sequer falar da tal rua o que poderia constituir um problema... Resolvi encontrar-me com o Miguel naquele que, sem suspeitar de início, se viria a tornar um dos nossos locais de culto para convívio, copos, matabichos (vulgo o acto de almoçar e jantar) e inevitavelmente local de culto para assistir aos derby's do nosso campeonato que no povo moçambicano encontra uma carteira de fervorosos e atentos seguidores... não fosse a terra natal da nossa Pantera Negra e do grande Matateu! Falo claro está da eterna pastelaria, casa-de-chá, restaurante e cervejaria CRISTAL na Av. 24Julho.

Visto a boleia ter sido idealizada só para mim, teria-mos de resolver o problema logístico que mais um elemento a transportar até casa representa numa carrinha de caixa aberta com 2lugares. Solução: vai o Nuno para a parte de trás. Digo-vos uma coisa, foram muito provavelmente os piores 3km e 25min da minha vida. Para um recém-chegado da Europa sem nunca ter estado num país em vias de desenvolvimento, o primeiro erro a evitar é pensar que se continua na Europa!!!!


À medida que avançáva-mos na estrada surgiam os primeiros sintomas do choque cultural na presença de um país subdesenvolvido: milhares de pessoas vagueando aparentemente sem rumo por todo o lado, crianças deleitando-se no meio de verdadeiros montes de lixo em plena via pública, crateras na estrada do tamanho de carros, dos quais estes se desviam com plena naturalidade e mestria, sujidade e pó, muito pó. Tanto pó que os meus olhos ansiavam desesperadamente e com a mesma força limpar as pequenas partículas que por eles entravam como aquilo que observavam.
Cada vez que parávamos num Stop ou semáforo, em cada esquina havia grupos de 10 e 15 adolescentes que me fitavam estaticamente como se eu me tratasse de uma presa observada pelos predadores. De cara pálida do Inverno português, roupa lavada e sapatilhas novas (propositadamente compradas para o pior a 9,90€ na agora longínqua SportZone), percorri todo o caminho agrarrando a mochila e o portátil, esperando que a qualquer momento alguem me apontasse uma faca e despojasse sem qualquer reacção de todos os meus bens, incluindo a vida. Dezenas de meninos aproximavam-se da carrinha, tentando desesperadamente vender tudo o que tivessem à mão, falavam: "pátrão, compra, compra, bárato, bárato..." mas eu não ouvia, estava cego, surdo e mudo num estado de total ansiedade!
Chegado à porta de casa e devido ao facto de ser feriado, havia imensas pessoas sentadas nos passeios a falar alto e a beber, maoiria das quais homens já grossos (como aqui se chamam aos bêbados)! Olhando para a habitação em si, à semelhança das que havia observado pelo caminho, esta tinha um sinal "cuidado com o cão", estava cravada com grades em todas as janelas e portas, cercada arame farpado e vedação eléctrica, características que nunca antes tinha visto juntas excepto num dos trailers mais hardcore do Rambo. Se ainda tinha dúvidas em entrar, esvaíram-se de imediato e entrei, na casa e em pânico.


Tendo em conta que até há 2semanas atrás o meu estágio iria decorrer em San José - Califórnia, nos EUA, numa empresa de software situada em pleno Silicon Valley - o panorama que a AICEP (Agencia p o Investimento e Comércio Extreno Português) me apresentava após esta viagem até casa era de completa desilusão, tristeza e desespero, tanto que ponderei mesmo desistir do estágio e vir embora no dia seguinte.
Decidi guardar para mim o sucedido, esperar e dormir sobre o assunto. No dia seguinte tudo parecia diferente, apesar de ser a mesma imagem, estava racional...
Toda a descrição que faço acima reflecte a maneira como eu senti tudo o que vi e todas as primeiras impressões que tirei... Lição nº1 da experiência Contacto: em tudo na vida, cuidado com juízos prévios e definitivos de pessoas e situações através das primeiras impressões. Observar, conhecer e compreender o contexto é fundamental.
Conclusão: as primeiras impressões não podiam estar mais ERRADAS!!! Hoje até me sinto mal de ter pensado o que pensei naquela tarde. Cresci um pouco :)


Abraços&Beijinhos
Nuno

2 comentários:

  1. estranha-se... depois entranha-se!

    a jfs é que nao!!!!fica pela primeira...

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  2. Sem dúvida que tiro daqui uma lição pessoal.
    Força Rapaz

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