um Figueirense em Mozambique: Viagem ao reino Kruger

É hoje Sábado 7Fevereiro, são 4h30h da manhã. Estamos com os C12’s na baixa de Maputo a beber uns copos e a descontrair quando dois grupos se decidem separar, um vai para outro bar dar continuidade à longa noite, outro vai ao KrugerPark na África do Sul. Convidam-me e não hesito, apesar de na altura não fazer ideia do que era o dito lugar nem o que iria encontrar durante esse dia. Pegámos no carro e fomos, eu, os antigos habitantes da minha casa (João, Goran e Nuno) e a Martinha, uma moçambicana nossa amiga e muito simpática que para pagar os estudos trabalha mais horas do que o humanamente compreensível exibindo sempre um sorriso sincero no rosto. Arrancámos…

O lendário Kruger National Park fica a 135km da capital moçambicana e é uma reserva criada em 1926 com o objectivo de proteger o maior conjunto de biodiversidade selvagem de África. Tem uma área aproximada de 20.000Km2, o que em linguagem Tuga, significa que poderíamos encaixar 2milhões de campos de futebol dentro dos seus limites!!! Isso é o que eu chamo um grande Zoo :).

Ao contrário do da estrada N1 que rompe para o Norte de Moçambique, a ligação Maputo-AS é óptima, resultado do financiamento Sul-Africano na sua construção e consequentes interesses óbvios. A viagem de 1h30 foi muito tranquila, vimos o lindo nascer do Sol africano (que ao contrário de Portugal aqui nasce no mar e põe-se na terra) e até tivemos direito a tratamento VIP na fronteira. No entanto, assim que pomos pé no país vizinho, as expressões, afabilidade e simpatia a que nos habituaram nos últimos dias esvanece e transforma-se numa certa tensão no olhar das pessoas e num tratamento mais frio, fruto um povo com recordações tristes de uma descolonização caótica e de um Apartheid ainda em cicatrização.
Chegados ao parque, usamos uma das entradas mais famosas – Malelane Gate – por cima da ponte Malelane que normalmente brinda os visitantes com uma vista privilegiada dos crocodilos relaxando ao sol no rio abaixo. Tivemos azar, nem crocodilo nem sardanisca durante todo o dia, esperemos que não tenham ido todos fazer sapatos…

A entrada foram cerca de 12€ por pessoa, valor simbólico face à experiência que nos proporciona. Pode-se optar por alugar um Jeep com guia, mas como levámos um 4x4, seguimos no nosso veículo para ter mais liberdade de observação. Quem quiser, pode ainda pernoitar nos diversos parques no interior da reserva e ter o privilégio de assistir às caçadas de alguns predadores que normalmente ocorrem a determinado horário e por regra, bastante cedo.

50metros após a entrada, eis que surge dos arbustos o primeiro exibicionista que nos obriga a parar e ceder passagem aos elegantes 900kgs de sua excelência, o Búfalo africano. Dentro do parque, conduzimos por 7horas seguidas e vimos um pouco de tudo: macacos, elefantes, gnus, impalas (aos milhares), girafas, javalis, hipopótamos, zebra, rinocerontes e até um leopardo empoleirado numa árvore, o que segundo os locais, é uma visão bastante rara. Dos famosos “Big five” (leão, leopardo, búfalo, elefante e rinoceronte) apenas o esquivo rei da selva faltou à sessão fotográfica!

Quero apenas contar-vos uma situação caricata (mas potencialmente perigosa) que se passou enquanto observávamos um conjunto de uma fêmea elefante e suas crias a alimentarem-se no pântano. Estavam mesmo ali, a 2metros do carro, tranquilamente a deleitar-se com o capim verde. Face à passividade em nos ver, desligámos o carro para poder absorver todos os sons que completavam aquela visão única… Estivemos assim 2, 3, 5 minutos até que o meu colega João exclamou: “[…] vamos embora, rápido!!![…]”. À medida que olho para a clareira à direita da estrada, vejo o motivo do alvoroço. Um elefante macho enorme a observar-nos e a abanar a cabeça em sinal descontente, que penso estar prestes a investir contra o carro caso não nos retirássemos de imediato. Ainda bem que o carro pegou à primeira, permitiu à Isuzu subir uns pontos no meu ranking pessoal de automóveis seguros para a família, em particular quando se vai para a selva :) Vejam o pequeno vídeo abaixo.

Como qualquer imagem vale mil palavras, não me estendo mais e deixo-vos com algumas fotos, que no meu caso, se tiram uma vez na vida…